terça-feira, 11 de setembro de 2007

7. O TEMA DE NOSSA VIAGEM–ESTUDO

Idosos no século XXI e na perspectiva da Diaconia e da Missão da Igreja

Por último, mas não menos importante abordaremos o assunto da viagem-estudo. Aqui simplesmente vou anexar o relatório que fizemos juntos, Zulmir e eu.

O tema que nos propusemos estudar foi um assunto fascinante. Visitamos nada menos que 20 Instituições/trabalhos com idosos, em realidades as mais variadas, do sul ao norte da Alemanha. Mantivemos contato também com três grupos de idosos em Comunidades da Igreja Luterana alemã. Uma oportunidade especial para nos ocupar do assunto IDOSOS, com palestras e reflexões, foi o Dia da Igreja (Kirchentag) em Colônia.
Ficamos impressionados, logo de início, com o grande número de pessoas na faixa etária idosa na Alemanha: mais de 30%, encaminhando-se para 40% da população (em torno de 30 milhões). Em comparação ao Brasil – que conta com 10% de idosos (cerca de 18 milhões) – pudemos logo entender porque tanto trabalho direcionado aos idosos. Na Alemanha, assim nos pareceu, a necessidade de cuidar das pessoas idosas (que já não podem cuidar de si sozinhas) é acentuada pelo fato cultural de todos os membros das famílias procurarem sua própria independência muito cedo e trabalham fora de casa. A necessidade de manter e construir cada vez mais Casas de Idosos, ou mesmo moradias comunitárias para idosos (onde os mesmos podem contar com alguns serviços que facilitam a sua vida), é uma necessidade crescente na Alemanha.
Uma questão crítica, que já preocupa, é a seguinte: até que ponto haverá dinheiro para financiar, em escala cada vez mais crescente, este trabalho de cuidado aos idosos alemães? O sistema é caro e tende a se tornar insustentável de acordo com depoimentos de alguns diretores de Instituições. Como tornar o sistema menos oneroso? Esta e outras questões desafiam a criatividade de todos os envolvidos com o cuidado aos idosos na Alemanha.
Um conceito atual, que está sendo testado com sucesso é o de “casas/família”. Cerca de 10 a 12 idosos, com necessidades leves de cuidados, são agrupados como uma família. Além de baratear um pouco os custos, este modelo tem a vantagem de ser mais participativo entre seus membros. Percebe-se a busca por um conceito mais moderno e eficiente de cuidado com idosos. Não mais investir em grandes complexos, mas em unidades menores, que permitem tratamento mais pessoal, familiar e humanitário. E que, ao mesmo tempo, permite atenuar os custos.
O sistema operacional de uma Casa de Idosos, tradicional ou moderno, é quase o mesmo: os residentes são distribuídos em alas, em função dos cuidados que exigem. Há também a possibilidade de idosos que vêm simplesmente morar na Casa, sem necessidade de cuidados especiais e que alugam um quarto/apartamento – estes representam um tipo de clientes. Os idosos que carecem de cuidados, desde o grau mais leve até cuidados mais constantes, são distribuídos em suas respectivas alas, podendo transitar livremente. Já os portadores de demência costumam ficar numa ala segura (isolada), devido ao seu estado de saúde mental.
O sistema de custeio de um idoso interno não foi fácil de entender. Primeiro, a questão médica. O médico da família atende em caso de doença e é pago pelo “Seguro-Saúde” do Governo. Quem não é empregado geralmente tem seu Seguro-Saúde particular. Esse atendimento médico é igual para todos, independente da idade, e funciona bem na Alemanha. Segundo, a questão da assistência. Para cada idoso internado em Casa de Idosos, o “Seguro-Assistência” do Governo paga um valor, negociado com a Instituição, escalonado em 3 a 4 níveis de necessidade de cuidados (calculado de acordo com os minutos necessários para cuidar do idoso – a mão-de-obra é cara). O restante do custo cabe à pessoa internada pagar (aposentadoria, poupança, bens, ajuda da família). Esgotadas todas as possibilidades, o internado pode recorrer ao “Seguro-Social” do Governo para completar o valor necessário. Um aspecto muito positivo que percebemos: por questões financeiras ninguém é excluído. Mas, é claro, durante a vida ativa todos se preparam para uma velhice tranqüila.
Visitamos também as duas maiores Instituições da Alemanha: HEPHATA, com cerca de 3 mil pessoas assistidas; e BETHEL, uma “cidade” de idosos e deficientes. O número de funcionários de uma Casa de Idosos gira em torno da metade: um funcionário para cada dois idosos, em média. Em torno de 50% do quadro de pessoal, por exigência da Lei, precisa ter formação técnica (ter diploma), segundo nos disse um diretor. Integram o quadro de pessoal: diretor(a), enfermeiras, atendentes e serviços gerais. Outros profissionais são contratados por hora. Somente em uma das vinte Casas visitadas encontramos um profissional psicólogo. Sempre há assistência espiritual de pastores e padres da vizinhança. Em uma Casa, da Caritas, havia um padre residente.
Casas de Idosos prestam assistência a pessoas internadas, mas não somente a estas. Oferecem também um trabalho bem abrangente, como cuidar e auxiliar idosos em suas residências. Os custos são carregados, em parte, pelo “Seguro-Assistência” do Governo. Este trabalho ambulante foi concebido para aliviar as listas de espera nas Casas de Idosos, bem como para baratear o serviço. O Governo e os dirigentes do trabalho de assistência ao idoso procuram incentivar ao máximo o adiamento da internação na Casa. Em regra, o idoso deve procurar internação somente após os 80 anos (a expectativa de vida beira os 100 anos!). Este serviço ambulante 24 horas, além de cuidados específicos, também oferece “comida sobre rodas”. Algumas Casas, por sua vez, oferecem a possibilidade do idoso vir almoçar com os internados (a preço de custo: 4,20 euros). Esta prática visa propiciar convívio ao idoso solitário, bem como “acostumá-lo” com a Casa. No dia em que precisar ser internado, esse idoso já não apresentará resistências.
Em algumas Instituições visitadas constatamos a participação de colaboradores voluntários. Em uma Casa, os voluntários tomam conta da cantina. Em outra, são pessoas voluntárias da comunidade/cidade que preparam e trazem os bolos caseiros para um café com os idosos no domingo à tarde. Sem essa atuação voluntária, a Casa não teria pessoal e condições de proporcionar esse lazer aos idosos.
E, por fim, algumas observações. Na maior Instituição diacônica da Alemanha – BETHEL – um diácono (aposentado) falou da evolução do conceito básico de assistência ao idoso. O conceito de “atendimento centrado na função”, do passado, evoluiu para “assistência centrada na pessoa”, procurando valorizar a dignidade da pessoa humana. O conceito de atendimento centrado na função se preocupava apenas com a qualidade do serviço prestado. Hoje, o foco não está mais na qualidade do serviço prestado, mas na qualidade de vida do idoso. O que importa é que os idosos sejam saudáveis e felizes. Que mudança!
A maioria dos diretores de Casas de Idosos manifestou preocupação em como atender, com os recursos possíveis, a um contingente cada vez mais crescente de idosos. Uma estimativa prevê que, em 2050, a Alemanha venha atingir o patamar de 50% de idosos em sua população.(40 a 50 milhões de idosos!) Quem poderá pagar essa conta? Os envolvidos nessa tarefa, inclusive Governo e Igreja, terão que ser muito criativos para superar os obstáculos.
No contato direto com diretores(as) das Casas/Instituições pudemos também compartilhar dos avanços com relação ao tema IDOSOS no Brasil, principalmente a conquista que representa a promulgação, pelo Governo brasileiro, do Estatuto da Idoso (Lei nº 10.741 de 01.10. 2003). Tudo o que nos foi propiciado ver e entender na Alemanha, com relação ao tema IDOSOS, veio a constituir uma bagagem preciosa, com a qual poderemos contribuir na IECLB e, principalmente, na Comunidade de Juiz de Fora.
Esta Viagem de Estudos foi valiosa para o crescimento pessoal. Sentimo-nos mais preparados e animados a colaborar com a Comunidade, caso esta venha a concretizar a concepção e construção de uma Casa de Idosos. Temos um forte sentimento que esta experiência que nos foi oportunizada representa apenas o começo! A partir daqui buscaremos saber mais também das experiências e avanços já alcançados aqui no Brasil, dentro de nossa diversificada situação sócio-econômica. Estaremos atentos para as situações e oportunidades em que pudermos dar a nossa colaboração.
Em Casa de Idosos, também percebemos a importância dada ao ambiente, além dos padrões técnicos rigorosamente seguidos, havia flores, quadros nas paredes; enfim uma decoração bonita e para despertar o bem-estar no idoso. Cantinhos de interesse: como o da leitura – onde um voluntário lia e trocava idéias sobre as notícias do jornal com um grupinho de idosos; cozinha para quem gosta de cozinhar; e até objetos antigos para resgatar e valorizar a época quando o idoso era jovem. Através dessas experiências, pudemos refletir que essas pequenas atenções independem de haver muito dinheiro para construções de prédios com infra-estrutura perfeita, de portas automáticas a modernas salas de terapia!
Um outro aspecto que não escapou à nossa percepção foi quanto ao tratamento humanitário; de como é importante ir além do cumprimento do trabalho tecnicamente correto e formal. A carência afetiva é igual para todos os seres humanos (principalmente idosos e deficientes), seja no Brasil ou na Alemanha. Assim, gostaria de relatar uma experiência minha em BETHEL/ Bielefeld. Aquela instituição visitada mantém uma Oficina para deficientes. Trabalhos simples, como separar e empacotar produtos, são realizados ali. Mas também estava na oficina alguém que não podia fazer absolutamente nada. Andréa, na sua cama, apenas murmurava alguns sons. De vez em quando, o responsável pelo setor ligava uma espécie de vibrador da cama que parecia trazer conforto e prazer para ela. Então toquei levemente na sua mão. Ela se alertou imediatamente e começou a brincar com a minha mão: bateu sua palma na minha, apertou minha mão. Parecia que ela não sabia falar e eu também não podia me comunicar com ela em alemão, então cantei “Happy Birthday” em inglês que pareceu agradá-la. Quando saímos dali, vimos que ela tentava se debruçar na grade da cama como que esperando que alguém continuasse a interagir com ela de alguma forma. Por que Andréa estava ali na oficina? Para não ficar jogada num quarto escuro, talvez. Para ver e sentir a luz do dia, sons, movimentos e pessoas se importando com ela!
Terminamos este relato fazendo menção de nossa passagem pelo Centro de Missão em Breklum – Nordelbisches Missionszentrum – bem como a visita, em Ladelund, ao Centro de Reflexão sobre nazismo, único do gênero na Igreja da Alemanha. E a novidade: a Comunidade de Ladelund está disposta a estabelecer um Projeto de Parceria com a Comunidade Evangélica Luterana de Juiz de Fora. Um desafio interessante a ser considerado.


Instituição de idosos Hephata em Schwalmstadt


Casa de Idosos


Centro Diacônico Frielendorf


Bethel - uma "cidade" para idosos e deficientes, em Bielefeld


Em Pfullingen, Horst Moecking, Neiva e Zulmir

Um comentário:

Unknown disse...
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