segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Faça valer uma vida!

“Os três irmãos, João Roberto, Vanessa e Pedrinho formavam um trio quase que inseparável. Ficar bem juntinhos era a maneira que tinham encontrado para tentar espantar o medo, a solidão, a fome...
- Não chora, Pedrinho. A mamãe vai chegar logo. Ela vai trazer bastante comida gostosa para nós. – Dizia Vanessa, de apenas cinco anos, para seu irmãozinho de três anos .
- É melhor a gente ligar o fogareiro e esquentar o angu que sobrou de ontem. – acrescentava João Roberto, de nove anos.
A mãe se ausentava de casa com frequência e às vezes demorava até cinco dias para aparecer de novo.
Nessas ocasiões as crianças eram socorridas por uma vizinha solidária, mas naquele bairro todos lutavam com dificuldades e nem sempre era possível ajudar. Também não faltava uma criatura má para dizer coisas horríveis para aquelas crianças. Certa vez apareceu um homem que parecia realmente interessado em ajudá-las. Ganhou a confiança dos três irmãos oferecendo bolos, chocolates, refrigerantes. Todo dia ele trazia uma coisa diferente. Mas sua verdadeira intenção era outra e numa dessas ausências da mãe, aconteceu o pior. Houve abuso sexual. A dor, o trauma se instalaram quase que de forma insuportável nas suas vidas.
Finalmente quando a mãe foi e não voltou mais, sendo encontrada morta uma semana depois, as três crianças foram encaminhadas para uma instituição, por ordem judicial”.


Esta história fictícia se aproxima da história real de algumas crianças e jovens que já passaram ou ainda vivem no Sítio Shalom, em Pequeri/MG.







O Sítio Shalom da Associação REMER abriga 36 crianças, em quatro casas. Cada casa tem nove crianças e uma mãe social.

Tudo começou há dezoito anos quando algumas pessoas do Rio de Janeiro procuravam um lugar tranquilo e longe da violência da metrópole para dar continuidade a um trabalho já começado naquela cidade. Uma importante parceria com a Fundação Help Mij Leven, da Holanda, permitiu belos investimentos na área. Tudo para atingir o objetivo de dar condições para que as crianças desenvolvam a saúde integral nos aspectos físico, espiritual, social e psicológico.


Cantinho Literário
Este é um espaço onde as crianças e adolescentes poderão ter acesso ao mundo mágico da leitura e onde desenvolverão diversas habilidades.


Quadra poliesportiva e mesa de pingue-pongue

Nem é preciso ouvir muitas explicações da diretora do Sítio, a psicóloga Janine, para perceber quão sérios são encarados aspectos como o acolhimento afetivo, o apoio a cada criança levando em conta as diferenças individuais e sobretudo uma aceitação incondicional.


Um espaço acolhedor onde a criança ou adolescente percebe a sua importância

Atualmente apenas quatro, das seis casas, estão em uso. É que a ajuda do exterior diminuiu drasticamente de uns tempos para cá. O Sítio Shalom tem direito a verbas municipais, mas os trâmites legais são lentos e difíceis. Resta contar com parcerias e ajuda de pessoas, entidades civis e religiosas.
Ainda como uma extensão do Sítio Shalom, há a Casa do Estudante, em Juiz de Fora que abriga oito jovens. Estes têm o apoio do Colégio Granbery.


Pastor Zulmir e Anderson, administrador do Sítio Shalom

Mas o que é REMER? Associação Refúgio de Meninos(as) de Rua. Trata-se de uma entidade civil filantrópica, constituída em 09 de janeiro de l989, com o objetivo de amparar crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social.


Janine, Raquel, Neiva e Pr. Zulmir

O Sítio Shalom, da REMER, existe porque alguns acreditaram e ainda apostam que podem resgatar muitas crianças para uma vida com perspectiva, amparadas pelo nosso amor solidário.

Faça valer uma vida! AJUDE!
Contatos podem ser feitos:
e-mail: sitioshalom.remer@gmail.com
telefone: (32) 3278-1240
Site: www.remer.org.br

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Coincidência?

Ganhei três volumes de um dos meus filhos , cada um com mais de 100 histórias. Não sei bem porque, decidi começar pelo livro 3, com 355 páginas. Resolvi que leria uma ou duas histórias por dia, sem pressa.
Justamente na véspera do feriado de Finados, em 02 de novembro de 2010, deparei-me com este relato, de autor desconhecido:

Você não me traz mais flores

O senhor que tomava conta do cemitério, pacato e abandonado, recebia todos os meses um cheque de uma mulher inválida, internada em um hospital não muito distante dali. O cheque era destinado à compra de flores, que deveriam ser colocadas no túmulo do filho dela, morto em um acidente de carro cerca de dois anos antes.
Um dia, um carro entrou no cemitério e parou em frente à guarita coberta de hera, do prédio destinado à administração. Um homem dirigia o carro e no banco de trás, havia uma senhora extremamente pálida e com os olhos semicerrados.
- Esta senhora está muito doente para caminhar – o motorista falou para o idoso.
- Será que o senhor poderia nos acompanhar até o túmulo do filho dela? Ela quer lhe pedir um favor. Bem, na verdade, ela está morrendo e como sou um antigo amigo da família, me pediu que a trouxesse até aqui para que pudesse ver pela última vez o túmulo do filho.
- Esta é a Sra. Wilson? – perguntou o idoso.
O homem concordou com um gesto de cabeça.
- Bem, eu sei quem é. Ela é quem me envia um cheque todos os meses para que eu coloque flores frescas no túmulo de seu filho.
O idoso acompanhou o homem até o carro e sentou-se ao lado da mulher. Ela estava bem fraca e certamente não demoraria muito para morrer. Havia, porém, algo mais naquela face, conforme o idoso observou – os olhos pretos e sombrios escondiam a dor profunda e interminável.
- Eu sou a Sra. Wilson – suspirou ela. – Todos os meses nestes dois últimos anos...
- Eu sei – disse o idoso. – Fiz tudo conforme o que me pediu.
- Vim aqui hoje – continuou ela – porque os médicos dizem que tenho apenas algumas semanas de vida. Não vou achar ruim partir. Não há nada mais que me segure aqui. No entanto, antes de morrer, queria vir até aqui para dar uma última olhada e para fazer um acordo com você, pois gostaria que continuasse a colocar flores no túmulo de meu filho.
Ela parecia estar exausta, pois o esforço para falar exauria suas forças. O homem seguiu pela rua de cascalhos e dirigiu o carro até o túmulo. Quando lá chegaram, a mulher após fazer um grande esforço, levantou-se um pouco e olhou para fora da janela para ver o túmulo de seu filho. Não se ouviu um som sequer nos momentos seguintes, a não ser o canto dos pássaros nas árvores, altas e antigas, espalhadas entre os túmulos.
Por fim o idoso falou:
- A senhora sabe, não é mesmo, que sempre lamentei que mandasse o dinheiro das flores.
A princípio, a mulher não demonstrou ter escutado o que ele dissera. A seguir, vagarosamente, virou-se para o idoso e disse:
- Lamenta? – suspirou ela. – Você se dá conta do que está dizendo? Meu filho...
- É claro que sei – interrompeu ele gentilmente. – Mas, veja bem, pertenço a um grupo da igreja que todas as semanas visita hospitais, asilos e prisões. Nesses lugares encontramos pessoas que ainda estão vivas e necessitam de ânimo e alegria. A maioria delas gosta de flores, pois podem vê-las e cheirá-las. Aquele túmulo ali, sabe... não há nada vivo ali para ver e sentir a beleza das flores – disse ele, mas olhou em outra direção, pois sua voz ficou embargada.
A mulher não respondeu, mas continuou a olhar fixamente para o túmulo do filho. Após algum tempo que mais parecia horas, ela levantou a mão e o homem dirigiu de volta para o prédio da administração. Ali o idoso desceu e, sem palavra alguma, o homem e a senhora foram embora. O idoso consternado, pensou: “Eu a ofendi. Não deveria ter dito o que disse”.
Alguns meses mais tarde porém, ele ficou surpreso ao receber uma nova visita dessa mulher. Ela mesma dirigia o carro, não havia nenhum motorista! O idoso mal podia acreditar no que via.
- Você estava certo a respeito das flores – disse-lhe ela. – Esta é a razão pela qual você não recebeu mais os cheques. Quando retornei ao hospital, suas palavras não saíam da minha mente, então comecei a comprar flores para o hospital, que não tinha nenhuma. Senti enorme alegria ao ver que todos gostavam delas, embora desconhecessem o remetente. Isso os fez feliz, porém mais do que isso, isso me fez feliz. Os médicos não sabem – continuou ela – como de repente minha saúde melhorou, mas eu sei!

Gray, Alice / Baumgardner, Barbara, Histórias para o coração 3, São Paulo:Editora Hagnos, 2006.
E no dia seguinte, o dia de Finados, recebi o e-mail de um amigo, onde ele e seu irmão honravam a memória da única irmã que tiveram, através de um resumo de sua vida e atividades. Apesar da dor pela perda recente, não ficaram estagnados na autocomiseração, mas preferiram lembrar e repartir o dinamismo de vida e o testemunho de fé da irmã e amiga que nos antecipou inesperadamente.
Acredito que dessa forma, todos nós podemos nos deixar inspirar e sair mais fortalecidos nesse dia.
Ainda pensando na melhor maneira de terminar o feriado de Finados, tirei do baú algumas fotografias antigas de familiares que já passaram desta vida para a outra, com o Pai da Eternidade, e as expus no quadro de cortiça que fica na minha cozinha.