quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Coincidência?

Ganhei três volumes de um dos meus filhos , cada um com mais de 100 histórias. Não sei bem porque, decidi começar pelo livro 3, com 355 páginas. Resolvi que leria uma ou duas histórias por dia, sem pressa.
Justamente na véspera do feriado de Finados, em 02 de novembro de 2010, deparei-me com este relato, de autor desconhecido:

Você não me traz mais flores

O senhor que tomava conta do cemitério, pacato e abandonado, recebia todos os meses um cheque de uma mulher inválida, internada em um hospital não muito distante dali. O cheque era destinado à compra de flores, que deveriam ser colocadas no túmulo do filho dela, morto em um acidente de carro cerca de dois anos antes.
Um dia, um carro entrou no cemitério e parou em frente à guarita coberta de hera, do prédio destinado à administração. Um homem dirigia o carro e no banco de trás, havia uma senhora extremamente pálida e com os olhos semicerrados.
- Esta senhora está muito doente para caminhar – o motorista falou para o idoso.
- Será que o senhor poderia nos acompanhar até o túmulo do filho dela? Ela quer lhe pedir um favor. Bem, na verdade, ela está morrendo e como sou um antigo amigo da família, me pediu que a trouxesse até aqui para que pudesse ver pela última vez o túmulo do filho.
- Esta é a Sra. Wilson? – perguntou o idoso.
O homem concordou com um gesto de cabeça.
- Bem, eu sei quem é. Ela é quem me envia um cheque todos os meses para que eu coloque flores frescas no túmulo de seu filho.
O idoso acompanhou o homem até o carro e sentou-se ao lado da mulher. Ela estava bem fraca e certamente não demoraria muito para morrer. Havia, porém, algo mais naquela face, conforme o idoso observou – os olhos pretos e sombrios escondiam a dor profunda e interminável.
- Eu sou a Sra. Wilson – suspirou ela. – Todos os meses nestes dois últimos anos...
- Eu sei – disse o idoso. – Fiz tudo conforme o que me pediu.
- Vim aqui hoje – continuou ela – porque os médicos dizem que tenho apenas algumas semanas de vida. Não vou achar ruim partir. Não há nada mais que me segure aqui. No entanto, antes de morrer, queria vir até aqui para dar uma última olhada e para fazer um acordo com você, pois gostaria que continuasse a colocar flores no túmulo de meu filho.
Ela parecia estar exausta, pois o esforço para falar exauria suas forças. O homem seguiu pela rua de cascalhos e dirigiu o carro até o túmulo. Quando lá chegaram, a mulher após fazer um grande esforço, levantou-se um pouco e olhou para fora da janela para ver o túmulo de seu filho. Não se ouviu um som sequer nos momentos seguintes, a não ser o canto dos pássaros nas árvores, altas e antigas, espalhadas entre os túmulos.
Por fim o idoso falou:
- A senhora sabe, não é mesmo, que sempre lamentei que mandasse o dinheiro das flores.
A princípio, a mulher não demonstrou ter escutado o que ele dissera. A seguir, vagarosamente, virou-se para o idoso e disse:
- Lamenta? – suspirou ela. – Você se dá conta do que está dizendo? Meu filho...
- É claro que sei – interrompeu ele gentilmente. – Mas, veja bem, pertenço a um grupo da igreja que todas as semanas visita hospitais, asilos e prisões. Nesses lugares encontramos pessoas que ainda estão vivas e necessitam de ânimo e alegria. A maioria delas gosta de flores, pois podem vê-las e cheirá-las. Aquele túmulo ali, sabe... não há nada vivo ali para ver e sentir a beleza das flores – disse ele, mas olhou em outra direção, pois sua voz ficou embargada.
A mulher não respondeu, mas continuou a olhar fixamente para o túmulo do filho. Após algum tempo que mais parecia horas, ela levantou a mão e o homem dirigiu de volta para o prédio da administração. Ali o idoso desceu e, sem palavra alguma, o homem e a senhora foram embora. O idoso consternado, pensou: “Eu a ofendi. Não deveria ter dito o que disse”.
Alguns meses mais tarde porém, ele ficou surpreso ao receber uma nova visita dessa mulher. Ela mesma dirigia o carro, não havia nenhum motorista! O idoso mal podia acreditar no que via.
- Você estava certo a respeito das flores – disse-lhe ela. – Esta é a razão pela qual você não recebeu mais os cheques. Quando retornei ao hospital, suas palavras não saíam da minha mente, então comecei a comprar flores para o hospital, que não tinha nenhuma. Senti enorme alegria ao ver que todos gostavam delas, embora desconhecessem o remetente. Isso os fez feliz, porém mais do que isso, isso me fez feliz. Os médicos não sabem – continuou ela – como de repente minha saúde melhorou, mas eu sei!

Gray, Alice / Baumgardner, Barbara, Histórias para o coração 3, São Paulo:Editora Hagnos, 2006.
E no dia seguinte, o dia de Finados, recebi o e-mail de um amigo, onde ele e seu irmão honravam a memória da única irmã que tiveram, através de um resumo de sua vida e atividades. Apesar da dor pela perda recente, não ficaram estagnados na autocomiseração, mas preferiram lembrar e repartir o dinamismo de vida e o testemunho de fé da irmã e amiga que nos antecipou inesperadamente.
Acredito que dessa forma, todos nós podemos nos deixar inspirar e sair mais fortalecidos nesse dia.
Ainda pensando na melhor maneira de terminar o feriado de Finados, tirei do baú algumas fotografias antigas de familiares que já passaram desta vida para a outra, com o Pai da Eternidade, e as expus no quadro de cortiça que fica na minha cozinha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que história forte ,verdadeira e com a qual me identifiquei

,em parte,porque jovem era e vivia a levar flores...

um dia percebi que só me deprimia...mudei e ganhei vida alegria...

Obrigada por dividir seus encontros, com histórias tão significativas.

Abraços,

Sueli