quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Amor a primeira vista

Aos dez anos de idade, deixei para trás minha terra natal e vim com minha família para as bandas das Minas Gerais. Tudo era diferente e encantador no começo, mas o que mais me deslumbrava era a quantidade de montanhas, que eu tentava reproduzir nos meus desenhos. A Serra do Curral em Belo Horizonte era um enigma para minha cabeça de criança, ficava imaginando o que haveria depois daquela enorme barreira. Será que a cidade terminava no pé da serra ou continuava depois?
Belo Horizonte foi um amor a primeira vista!


Reencontro com a Serra do Curral anos mais tarde!

Voltando para 1.960, de vez em quando batia saudades da infância livre e despreocupada, comendo mangas debaixo das frondosas mangueiras e das brincadeiras na rua com outras crianças da vizinhança. Mas a adolescência já estava despontando e muitas novidades pela frente...
Fui estudar no então Colégio Estadual de Minas Gerais. Naquela época o Ensino Fundamental era dividido em duas etapas, o primário (4 anos) e o ginásio (4 anos). Então, depois do exame de admissão que era uma espécie de vestibular para ingressar no Ginásio, comecei a 1ª série ginasial. Ainda bem me lembro, o uniforme era horrível (pelo menos para os padrões atuais), mas eu estava muito orgulhosa de poder usá-lo. Ainda um pouco insegura com as mudanças, não fui muito bem nos estudos naquele começo. Mas nada como o apoio da família e novas amizades para nos impulsionar para frente.

O tempo foi passando,a adaptação aconteceu aos poucos e então novas raízes foram crescendo em novo solo. O Colégio Estadual em Belo Horizonte foi um marco importante na minha vida. Ali no bairro Santo Antônio cursei a 1ª e 2ª séries do ginásio. A 3ª e 4ª séries, no anexo do bairro Serra, onde morávamos. Mas voltei para o colégio no bairro Santo Antônio para cursar o Segundo Grau que na época se dividia em Clássico e Científico. O curso Clássico privilegiava as matérias humanas e o Científico, as matérias exatas. Registro com saudade e gratidão a boa amizade com a colega Elizabeth Meyer.


Agora meu ex-colégio tem outro nome.


Sua arquitetura arrojada ainda chama atenção. Nesse auditório, no formato do antigo mata-borrão, foi a minha formatura do Segundo Grau.

Do Colégio Estadual até a Praça da Liberdade era um pulo. Um lugar lindo que atravessa os tempos intacto e preservado.



Do antigo coreto se tem a visão da modernidade: o edifício ao fundo tem na sua arquitetura o nome de Oscar Niemeyer.


Ao fundo, o Palácio do Governo que em breve será transformado em museu.

Ali também ficava a Biblioteca Pública, dividida em dois setores: Adulto e Infanto-juvenil. Era um lugar que eu amava frequentar. Ainda me lembro de como me senti importante quando passei para a parte dos adultos.


O prédio continua abrigando a biblioteca até hoje, ou parte dela pelo menos.


Do Colégio Estadual para a Faculdade de Letras da UFMG, no mesmo bairro (Santo Antônio), parece que foi meio automático, apesar do vestibular. Ali foram mais quatro anos! Durante esse tempo consolidei amizade com Ana Maria Bittencourt que é minha amiga até hoje, aliás não apenas nós duas permanecemos amigas, como também nossos maridos e filhos se tornaram amigos.


Este prédio que sediava algumas faculdades, certa vez foi cercado pela polícia. Lembrando que estávamos em plena ditadura militar. O objetivo era prender alguns “estudantes da esquerda” que supostamente estavam reunidos ali. Eu estava no ponto do ônibus e assisti o cerco. Meus colegas que ainda estavam lá dentro ficaram algumas horas como prisioneiros e passaram muita fome... porque enquanto a reitora negociava, ninguém deixou o prédio.

Moramos no bairro Serra por um bom tempo e não longe de nossa casa, estava a 1ª Igreja Presbiteriana, na esquina da Rua Ceará com a Av. Afonso Pena. Ainda é possível lembrar da primeira igreja construída nesse local, na época que os bondes ainda circulavam por Belo Horizonte. Era uma igrejinha a moda antiga, com torre e muito aconchegante. O problema é que já não comportava mais seus membros. Foi necessário derrubá-la para construir outra maior em seu lugar.




O novo templo ganhou arquitetura moderna

Durante o tempo de construção do novo templo, a igreja se reunia nas dependências do colégio Isabela Hendrix para suas celebrações. Foi ali que começou o Grêmio Erasmo Braga, para adolescentes. Dona Clotilde Johnson foi nossa primeira orientadora. Seu testemunho e grande envolvimento com nossas vidas marcaram para sempre nossa caminhada na fé cristã.

Douglas, Ana Rita, Clotilde Johnson, em maio de 2008


Aninha, D. Clotilde, Neiva

No Grêmio Erasmo Braga também construímos belas amizades. Conheci Ageu Heringer Lisboa nessa época e continuamos amigos até a Faculdade. Ele estudava Psicologia e eu, Letras, no mesmo prédio. Fizemos uma boa parceria na liderança da ABU-BH (Aliança Bíblica Universitária em Belo Horizonte), entre 1967 e 1972. Mantemos contato até hoje.

ABU foi tudo de bom na minha vida enquanto universitária.
Nesse período de vida acadêmica, a ABU foi muito importante, pois por conta de nossa fé e tentativa de viver de modo coerente com os princípios cristãos, sofremos muita contestação. Permanecer junto com outros universitários cristãos sendo assessorados por pessoas especiais, nos ajudou a não vacilarmos e permanecermos firmes nas nossas convicções. Além disso foram muitas reuniões, retiros, congressos, amizades, paqueras...
Mas, com certeza estava escrito que eu não fincaria raízes duradouras em Belo Horizonte. Então, contrariando o que seria mais provável de acontecer, num congresso da ABU conheci aquele com quem viria a me casar e mudar para muito, muito longe, para o Rio Grande do Sul.


Os amigos devem lembrar, o casamento ecumênico (de uma presbiteriana com um luterano) foi ali na Capela do Colégio Isabela Hendrix, no dia 28 de dezembro de 1973.

No entanto a vida traz algumas surpresas. Assim, quase trinta anos se passaram quando surgiu a oportunidade de eu voltar para Minas Gerais, com minha família – diferente daquela primeira - agora com marido e quatro filhos. Em Juiz de Fora, reencontrei Uriel Heckert. Em Belo Horizonte, num Encontro de gerações de abeuenses, em dezembro de 2008, reencontrei Altino, Homem Israel, Tonica, Perrin e Carlota.


Altino, Neiva e Homem Israel


Tonica e Neiva


Perrin, Neiva, Carlota

Quero concluir dizendo que nesses reencontros podemos nos conhecer de novo, pois constatamos que a caminhada que já começa a ficar longa, vai nos transformando. Deus vai nos lapidando e por isso, acho que ficamos mais maduros e bonitos!!! Ao aproximarmos uns dos outros de novo somos enriquecidos e experimentamos alegria!

Os caminhos e surpresas que Deus nos reserva adiante somente Ele conhece. O importante no momento é ir lançando raízes na Eternidade, onde o reencontro será completo, inclusive com aqueles que já nos anteciparam. “Bendita a certeza da ressurreição”!