domingo, 3 de julho de 2011

Mudanças trazem lembranças

Já perdi a conta das vezes que precisei empacotar as coisas e mudar de casa. Ao longo desses sessenta e uns anos de vida foram muitas mudanças. Mudanças pequenas, de uma casa para outra muito próxima, até mudanças de um estado para outro. Mudanças não nos permitem fincar raízes num lugar e gozar de uma certa estabilidade. Por outro lado, há vantagens nelas: novos horizontes, novas amizades e o aprimoramento da capacidade de se adaptar a novas circunstâncias, aprendendo com o que de melhor elas podem nos oferecer.
É com essa bagagem que estou encarando agora esta que promete ser a última – ou talvez a penúltima, ou antepenúltima – mudança!
Uma mudança também pode significar ótima oportunidade para fazer uma triagem nas suas coisas e se livrar das inúteis. Remexer nos alfarrábios pode trazer surpresas também. Pois foi exatamente isso que aconteceu comigo. Estava empacotando coisas para a mudança de Juiz de Fora, MG para Rio das Ostras, RJ, quando encontrei uma caixa de sapato toda encapada com um lindo papel de presente, mas já amarelado pelo tempo. Havia um bilhete colado no fundo da caixa:

Para você... Ernesto
Que suavizou a nossa vida de mestres
Com a candura do seu olhar,
A pureza do seu carinho,
O estímulo da sua inteligência,
O nosso abraço confiante
Na grandeza do seu futuro!
Agora estamos em férias, mas estaremos à sua espera quando chegar a saudade do seu Peixinho Dourado!
FELIZ NATAL / 1985! (Tia Bernadete)

Pois foi aí que me pegou a saudade do “Peixinho Dourado”. Encontrei várias fotos daquela época e as lembranças emergiram.
Em 1980 chegava a Ferraz de Vasconcelos, SP, uma pequena família: Pr. Zulmir, Neiva e Rosemeri. Ainda meio assustados com o burburinho da grande São Paulo, mas apreciando muito o lindo espaço da comunidade luterana (IECLB) ali, em Ferraz, começamos a sonhar que esse espaço poderia ser maravilhoso para nossos filhos e também, quem sabe, para outras crianças da cidade!
Ainda bem que para um casal jovem nada pode parecer difícil ou complicado. Tínhamos uma família muito próxima a nós que nos apoiava e encorajava. Sueli Parada era pedagoga e tinha uma escola infantil, o Centro de Recreação e Aprendizagem Parada Feliz, na Vila Buenos Aires (Penha/São Paulo). Seu marido, o Simão, era professor. O “Recreio Infantil da OASE”, em Santo Amaro também nos deu um bom suporte. Assim, sem grandes pretensões, de maneira bem amadora e “artesanal”, em 1981, com 16 alunos, teve início atividades com crianças na Comunidade Evangélica Luterana em Ferraz de Vasconcelos. Ainda nos lembramos da alegria da nossa filha Rose e do seu amiguinho e vizinho, Mathias (neto dos saudosos Teresa e Eugenio Ritzmann), no primeiro dia de “aula”.
Assim, a igreja dos alemães, como era conhecida, na Rua Hermann Teles Ribeiro, mais conhecida como Rua da Figueira, tornou-se caminho de muitas crianças. Verdade que a figueira não existia mais no pátio da igreja, mas ficou a lembrança. Verdade também que algumas lideranças da época ainda tinham suas dúvidas sobre a viabilidade desse projeto, mas fomos em frente com o apoio de outros, e no final todos deram sua parcela de contribuição. Quase junto com o “Recreio Infantil Peixinho Dourado” surgiu o Centro Social e Recreativo “Talita Cumi” com uma visão mais social, abrindo espaço para crianças carentes também. O “Talita Cumi” que significa “menina, levanta-te” (Mat.5.41), no início recebeu ajuda financeira do “Brot für die Welt (Pão para o Mundo). Também tivemos duas assistentes comunitárias da IECLB que deixaram uma importante parcela de contribuição: Mara Brietzke e Wilma Petsch. A OASE (Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas) foi a nossa entidade mantenedora, o que foi de suma importância nesse começo. Oito anos se passaram e o número de crianças aumentou muito, foram necessários investimentos no espaço físico. Mas era chegada a nossa hora de atender outros chamados. Antes da nossa partida procuramos preparar alguém que pudesse assumir o nosso lugar. Então ganhamos a Rosângela Martins que tinha o curso de pedagogia e, apesar de ser bem jovem, aceitou o desafio com entusiasmo.
Hoje, passados mais de trinta anos, podemos nos alegrar porque esse espaço maravilhoso nunca deixou de ser frequentado por crianças e adolescentes, pois outros vieram com visão, coragem e determinação e deram prosseguimento a novos e belos projetos que culminaram com a “Escola Luterana” da União Paroquial de São Paulo, em Ferraz de Vasconcelos.
Termino com duas perguntas que poderão ser respondidas pelas gerações que ao longo dessas décadas têm passado pela igreja e Escola Luterana em Ferraz de Vasconcelos. Qual a importância da Escola para a Comunidade Luterana? Que influência exerce a Comunidade sobre a Escola?
Agradeço a Deus por ter passado oito anos em Ferraz. Ali nos nasceram a Kátia e os gêmeos Eugenio e Ernesto. Recebemos muito apoio e carinho. Podemos dizer que com erros e acertos, aprendemos muito e pudemos deixar uma pequena contribuição.
Neiva Maria Galvão Penno