terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma viagem ao centro do continente

Nas férias de julho fiz uma viagem ao centro do continente! Sim, nada mais, nada menos do que Cuiabá, minha terra natal!
Isso significou rever e matar a saudade da parentada, levar um carinho especial aos mais idosos e também apreciar a natureza que nos serviu de berço.
Há cem anos, o Marechal Rondon e seus oficiais fizeram as contas e determinaram onde fica o centro do continente, distantes nas mesmas medidas dos oceanos Atlântico e Pacífico. Fincaram em Cuiabá, a capital do Mato Grosso, mais especificamente na Praça Pascoal Moreira Cabral, o marco geodésio da América do Sul.

Mas antes de chegar lá, passei por Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, onde parte da família se estabeleceu. Ali comemorei meus 60 anos!


Com direito a bolo com vela e parabéns!


Que bom poder chegar à "melhor idade"! E melhor ainda, comemorar essa data junto com pessoas tão amadas!


Elias, meu sobrinho, e sua esposa Andressa foram os organizadores da festa, na casa deles.


Aqui até parece o Clube da Luluzinha: irmãs, filha e sobrinhas... todas lindas e perfunadas!


Sessenta anos de vida já nos dá essa alegre possibilidade: ser vovó. Meu netinho também fez parte dessa festa!

Passaram-se alguns dias e finalmente chegou a hora de voarmos, minha irmã Eneida e eu, para CUIABÁ!

Assim que deixamos o ambiente climatizado do aeroporto, constatei que a cidade continua "caliente", em todos os sentidos, principalmente na recpção amigável e simpática de sua gente, com aquele inconfundível sotaque cuiabano! O sol inclemente prometia mais um dia daqueles, apesar de todos afirmarem que estávamos com sorte, que o clima estava fresco! (Uns 28 ou 30 graus)
Depois que minha família se mudou de Cuiabá para Belo Horizonte, em dezembro de 1959, eu tive a oportunidade de voltar para lá em duas ocasiões diferentes, mas desta vez foi especial porque 32 anos se passaram desde a última visita.
Encontro uma cidade linda, moderna.


A cidade chamará mais atenção até 2014, quando será uma das sedes da Copa do Mundo. Com certeza sua infraestrutura vai melhorar muito.


Só reconheci mesmo a minha cidade quando atravessei o rio Cuiabá.


A memória da antiga Cuiabá está em muitos lugares tombados pela Unesco. Eu me senti como se estivesse vivendo 50 anos para trás quando caminhei em algumas ruas estreitas do centro - com seu calçamento de paralelepípedo e casas antigas.


Cuiabá é uma das cidades mais antigas do Centro-Oeste. Com quase trezentos anos de existência, tem cultura e tradições próprias muito bem preservadas. Por outro lado investe no futuro. O Parque Mãe Bonifácia é um exemplo dos muito lugares novos e lindos para o lazer da população local e visitantes.

A cidade é cercada por dois ecossistemas tão exuberantes quanto diferentes: a Chapada dos Guimarães com seus imponentes paredões de arenito e o Pantanal, um celeiro alagado, metade do ano para jacarés e uma infinidade de pássaros.


Tucanos, araras, tuiuius, etc. são facilmente encontrados, mesmo em cidades - naquelas que são próximas ao Pantanal. Para mim foi surpreendente poder ver e fotografar um casal de araras numa árvore em frente à casa de minha irmã, em Campo Grande (MS).
Mas voltando a Cuiabá, uma vez muito bem recebidas e instaladas no apartamento do tio Joaquim, dali mesmo, de uma das janelas já dava para descortinar a Chapada dos Guimarães...

Sensacional por si só, a Chapada com seus paredões faz borda a uma planície a se perder de vista, cuja única saliência é o Morro de Santo Antônio.


Ali, ao pé do morro está a cidade de Santo Antônio do Leverger, que aliás, me traz ótimas lembranças: um pique-nique numa praia maravilhosa do rio Cuiabá, ali nas redondezas.
No último dia da nossa estada em Cuiabá, a prima Lenes e seu marido, Joel, nos proporcionaram um passeio maravilhoso a Chapada dos Guimarães...


No início do percurso, ainda na planície, a vegetação é aquela típica do serrado: esparsa, árvores baixas com galhos retorcidos, mas não demora muito e os paredões de arenito começam aparecer.


A paisagem é de tirar o fôlego!


Cachoeiras, riachos de águas cristalinas... e trilhas para quem gosta e pode caminhar muito!


Para Lenes e Neiva não faltou coragem para chegar alguns metros abaixo até o final da queda d'água.


"Lenes, Joel, olhem para cá!" O sol e o calor estão nos castigando, mas a água do rio é fria e cristalina, ótima para um banho. Mas resolvemos almoçar aquele "pacu" (peixe típico dos rios da região) que já tinha sido encomendado!

Nosso passeio prosseguiu até a cidadezinha de Chapada dos Guimarães, onde encontramos o primo Peniel e sua filha.

A cidade de Chapada dos Guimarães tem 17 mil habitantes e vive da agricultura e turismo. Tem um centrinho com ares de cidade de interior de antigamente. Como acontece em tudo quanto é cidade do interior, a praça em frente a igreja principal, centraliza as principais atrações: sorvetes, barzinhos e inúmeras lojas de suvenirs.


A Igreja de Sant'Ana do Livramento foi inaugurada em 1779, apenas 28 anos depois da própria cidade - em pleno ciclo do ouro matogrossense.


Essa casa tem o telhado tombado. Ela me faz lembrar muito a casa do meu avô materno, que era a sede da fazenda Raizama, ela tinha um telhado igual a esse.

Ainda nesse mesmo dia nos despedimos do primo Peniel e da Chapada dos Guimarães. Já em Cuiabá nos despedimos de todos e chegamos ao aeroporto a tempo para o voo de volta...

Até breve. Quem sabe na Copa de 2014!???

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O mandamento com promessa

"Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá."

Aí está um dentre os famosos Dez Mandamentos dados por Deus no monte Sinai. O único com uma promessa - vida longa - para quem o cumprir!
Entendo os Dez Mandamentos como expressão da ética que se fundamenta no próprio Deus, no seu caráter. Os Mandamentos envolvem obrigações para com Deus e para com os outros seres humanos. Certamente uma sociedade que despreza tais princípios nunca terá justiça.
Mas por que destaquei o mandamento que fala do relacionamento com nossos pais? É evidente que vivemos no momento uma reviravolta nos costumes. Nossas tradições mais importantes estão sendo desprezadas. As famílias já não têm espaço para seus idosos. Os mais jovens não reverenciam seus avós, muito menos escutam suas opiniões e conselhos! Que tipo de filhos nós estamos sendo quando confrontados com o quarto mandamento? Que exemplos estamos deixando para nossos filhos? É bom lembrar em tempo que muito especialmente neste terreno, colheremos o que estivermos plantando...
Talvez pela determinação de cumprir o quarto mandamento é que eu vinha alimentando já algum tempo um plano. Meus pais estão falecidos, mas ainda tenho alguns idosos na minha família a quem devo amar, prestar toda atenção neles e em suas necessidades, enfim honrá-los.
Foi assim que em julho de 2009 pude concretizar o antigo sonho. Visitei Cuiabá, minha terra natal, e alguns anciãos da minha família: Tia Marieta, viúva do meu tio André, está com 92 anos; tia Judite, viúva do meu tio José, também com 92 anos - as duas foram cunhadas da minha falecida mãe. Tio Antônio, com 86 anos; tio Joaquim, 79 anos, irmãos do meu falecido pai. Também pude rever alguns primos e primas com quem brinquei na infância e até encontrar alguns pela primeira vez!

Aqui estou com tia Marieta e sua filha Virgínia que é viúva também e quem cuida dela.


Outra quase centenária, tia Judite. Ela mora com sua filha Maria que aparece na foto também.
Mudanças que o passar inexorável do tempo impõe nas pessoas e nos lugares, deixam a sensação de algo perdido, mas conforta-me poder reconhecer e valorizar minhas raízes, honrar meus antepassados me alegrando com o legado deixado por eles.


Aí está: por fora não mudou nada. Há mais de 50 anos era a igreja que frequentava com meus pais, irmãos, primos... Ali fui batizada e seguindo os passos dos antepassados, aprendi o valor de viver a fé em comunhão com outros.


Agora do lado direito dessa igreja funciona uma livraria evangélica, mas no meu tempo a igreja era ladeada por corredores, ou seja, bastante espaço para a meninada correr alvoroçada. Só que havia um quartinho por ali, onde era abrigada uma idosa, D. Libania. Num belo dia nós a incomodamos tanto com nossa correria e gritos que ela resolveu acabar com a nossa festa: atravessou nosso caminho com sua bengala...


A casa onde morávamos, com mangueiras exuberantes e deliciosas mangas, não existe mais, porém o centro não mudou nada. Ali reconheci os Correios e Telégrafos e ao lado, uma secretaria do governo estadual, locais onde meus pais trabalharam. Um pouco mais atrás, a antiga Escola Moldelo Barão de Melgaço, onde minha tia Leonor foi professora e diretora. Caminhando pela avenida principal, encontramos o Liceu Cuiabano tal qual 50 anos atrás. Alunos do primeiro turno deixavam a escola, algo familiar nos seus rostos, mas o uniforme que usavam, com certeza, muito mais "bonitinho" do que naqueles velhos tempos!


Tio Joaquim e tio Antônio, com 79 e 86 anos. A emoção de rever estes tios foi muito forte pois são muito parecidos com meu pai. Ouvir do tio Joaquim as histórias da família Galvão foi outro lance emocionante que merece um outro artigo.


No dia que eu e minha irmã Eneida fomos visitar o tio Antônio, alguns primos ficaram sabendo e nos apertamos todos para esta foto histórica!


Na casa da prima Lenes. Momentos de pura alegria com muitas belas recordações da infância que já vai longe...


Da esquerda para a direita: Lenes e Léa (primas), Eneida (irmã), Neiva (eu) e Jaqueline, filha do primo Peniel que aparece sentado. Agora, com exceção da Jaqueline, adentramos na "melhor idade"!

Uma indagação me vem à mente: o que estamos fazendo agora para deixarmos como boas recordações para nossos filhos e netos?


Quero concluir prestando uma homenagem póstuma aos meus pais com a publicação de duas fotos.

Poxoréu, MT em 1946. Jerônimo, Perolina com as duas filhas Ada e Eneida.


Bodas de Ouro de Jerônimo e Perolina em 11 de maio de 1985, Campo Grande / MS, com a filha mais nova - eu e minha família.

A mensagem final fica por conta da poetisa Cora Coralina:

NÃO SEI
Não sei se a vida é curta ou
longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido se não tocarmos
o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser...
colo que acolhe,
braço que envolve
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
amor que promove,
desejo que sacia.
E isso não é coisa de outro mundo.
É o que dá sentido à vida
e o que faz com que ela não seja
nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, pura e verdadeira,
enquanto durar...