segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O mandamento com promessa

"Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá."

Aí está um dentre os famosos Dez Mandamentos dados por Deus no monte Sinai. O único com uma promessa - vida longa - para quem o cumprir!
Entendo os Dez Mandamentos como expressão da ética que se fundamenta no próprio Deus, no seu caráter. Os Mandamentos envolvem obrigações para com Deus e para com os outros seres humanos. Certamente uma sociedade que despreza tais princípios nunca terá justiça.
Mas por que destaquei o mandamento que fala do relacionamento com nossos pais? É evidente que vivemos no momento uma reviravolta nos costumes. Nossas tradições mais importantes estão sendo desprezadas. As famílias já não têm espaço para seus idosos. Os mais jovens não reverenciam seus avós, muito menos escutam suas opiniões e conselhos! Que tipo de filhos nós estamos sendo quando confrontados com o quarto mandamento? Que exemplos estamos deixando para nossos filhos? É bom lembrar em tempo que muito especialmente neste terreno, colheremos o que estivermos plantando...
Talvez pela determinação de cumprir o quarto mandamento é que eu vinha alimentando já algum tempo um plano. Meus pais estão falecidos, mas ainda tenho alguns idosos na minha família a quem devo amar, prestar toda atenção neles e em suas necessidades, enfim honrá-los.
Foi assim que em julho de 2009 pude concretizar o antigo sonho. Visitei Cuiabá, minha terra natal, e alguns anciãos da minha família: Tia Marieta, viúva do meu tio André, está com 92 anos; tia Judite, viúva do meu tio José, também com 92 anos - as duas foram cunhadas da minha falecida mãe. Tio Antônio, com 86 anos; tio Joaquim, 79 anos, irmãos do meu falecido pai. Também pude rever alguns primos e primas com quem brinquei na infância e até encontrar alguns pela primeira vez!

Aqui estou com tia Marieta e sua filha Virgínia que é viúva também e quem cuida dela.


Outra quase centenária, tia Judite. Ela mora com sua filha Maria que aparece na foto também.
Mudanças que o passar inexorável do tempo impõe nas pessoas e nos lugares, deixam a sensação de algo perdido, mas conforta-me poder reconhecer e valorizar minhas raízes, honrar meus antepassados me alegrando com o legado deixado por eles.


Aí está: por fora não mudou nada. Há mais de 50 anos era a igreja que frequentava com meus pais, irmãos, primos... Ali fui batizada e seguindo os passos dos antepassados, aprendi o valor de viver a fé em comunhão com outros.


Agora do lado direito dessa igreja funciona uma livraria evangélica, mas no meu tempo a igreja era ladeada por corredores, ou seja, bastante espaço para a meninada correr alvoroçada. Só que havia um quartinho por ali, onde era abrigada uma idosa, D. Libania. Num belo dia nós a incomodamos tanto com nossa correria e gritos que ela resolveu acabar com a nossa festa: atravessou nosso caminho com sua bengala...


A casa onde morávamos, com mangueiras exuberantes e deliciosas mangas, não existe mais, porém o centro não mudou nada. Ali reconheci os Correios e Telégrafos e ao lado, uma secretaria do governo estadual, locais onde meus pais trabalharam. Um pouco mais atrás, a antiga Escola Moldelo Barão de Melgaço, onde minha tia Leonor foi professora e diretora. Caminhando pela avenida principal, encontramos o Liceu Cuiabano tal qual 50 anos atrás. Alunos do primeiro turno deixavam a escola, algo familiar nos seus rostos, mas o uniforme que usavam, com certeza, muito mais "bonitinho" do que naqueles velhos tempos!


Tio Joaquim e tio Antônio, com 79 e 86 anos. A emoção de rever estes tios foi muito forte pois são muito parecidos com meu pai. Ouvir do tio Joaquim as histórias da família Galvão foi outro lance emocionante que merece um outro artigo.


No dia que eu e minha irmã Eneida fomos visitar o tio Antônio, alguns primos ficaram sabendo e nos apertamos todos para esta foto histórica!


Na casa da prima Lenes. Momentos de pura alegria com muitas belas recordações da infância que já vai longe...


Da esquerda para a direita: Lenes e Léa (primas), Eneida (irmã), Neiva (eu) e Jaqueline, filha do primo Peniel que aparece sentado. Agora, com exceção da Jaqueline, adentramos na "melhor idade"!

Uma indagação me vem à mente: o que estamos fazendo agora para deixarmos como boas recordações para nossos filhos e netos?


Quero concluir prestando uma homenagem póstuma aos meus pais com a publicação de duas fotos.

Poxoréu, MT em 1946. Jerônimo, Perolina com as duas filhas Ada e Eneida.


Bodas de Ouro de Jerônimo e Perolina em 11 de maio de 1985, Campo Grande / MS, com a filha mais nova - eu e minha família.

A mensagem final fica por conta da poetisa Cora Coralina:

NÃO SEI
Não sei se a vida é curta ou
longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido se não tocarmos
o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser...
colo que acolhe,
braço que envolve
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
amor que promove,
desejo que sacia.
E isso não é coisa de outro mundo.
É o que dá sentido à vida
e o que faz com que ela não seja
nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, pura e verdadeira,
enquanto durar...

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